16 de março de 2015

Boneca nova

Há uma história acerca de Franz Kafka: um dia, no parque em que caminhava diariamente, encontrou uma pequena menina chorando. Ela havia perdido sua boneca. O escritor ajudou-a a procurar, sem sucesso. Combinou de se encontrar com a criança no dia seguinte, no mesmo horário e local. Ainda sem achar a boneca, Kafka escreveu uma carta à menina como se fosse sua boneca perdida. A carta dizia para que não se lamentasse, ela havia partido em busca de novas aventuras. Daí em diante, eles passaram a se encontrar todos os dias e cada dia havia uma nova carta relatando as aventuras da boneca. Até que um dia os encontros chegaram ao fim e Kafka entregou à pequena menina uma nova boneca, diferente da primeira, com um bilhete dizendo: minhas viagens me mudaram. Anos depois, a menina já crescida encontrou no interior da boneca uma outra carta. Em resumo dizia assim: "Tudo o que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará de uma forma diferente."

Uma pessoa querida e sábia me contou isso no inicio do mês passado. Fiquei confortada, mesmo sendo difícil começar a crer em um novo amor quase a partir do zero. Hoje sou grata ao que a vida se transformou. Hoje, se fosse pra te comparar seria com uma boneca nova. Não só pelo teu jeito, o teu tamanho, teus olhinhos lindos, a forma que você se encaixa nos meus braços. Mas pela surpresa da tua chegada. Pela minha teimosia em aceitar mudanças, em não querer enxergar as tantas possibilidades próprias dos recomeços. Você chegou numa caixa atrativa, eu nem liguei. Você chegou num dia qualquer, como são os presentes mais preciosos, eu nem percebi. Você se colocou no meu colo e eu me apaixonei.
Aos poucos, mas de uma maneira muito rápida, fui descobrindo teus tantos encantos, teu cantos, nosso jeito de nos encontrar. Cada pessoa é um mundo inteiro. Estou descobrindo tuas terras, teus rios, teus medos, essa felicidade que carrega dentro de ti. Não vou me cansar de andar. Ainda há tantas trincheiras que quero desvendar, todos os dias parece pouco. Parece pouco mas não é. Temos a sorte de estarmos em outro tempo. Dos nossos dias passarem depressa ao mesmo que somos preenchidos pela sensação de vida. Uma vida inteira em poucos meses. Você vem, andando de mansinho, entrando em mim de uma maneira tão bonita e delicada. Você está me salvando sem perceber. Dos meus próprios medos, dos limites que imponho a mim mesma. Você me faz querer ser melhor e, mesmo que nosso futuro seja incerto, que essa palavra nem exista para nós, já valeu a pena. Você é o amor que retornou de outra maneira e encheu meu coração de alegria, meus dias de sorrisos, minha vida de cumplicidade e carinho. Você é a minha boneca nova da história do Kafka, a minha sorte. Obrigada!

Nenhum comentário: