10 de novembro de 2013

Pode vir de chinelo no meu castelo amarelo, tá servido um cogumelo?

Há um tempo nós construímos um castelo. Ele era grande, com livros e obras de arte, era todo pintado de amarelo. Mas você insistia em ficar no jardim. E eu lá dentro esperando você entrar, algumas vezes eu via uma foto nossa e, pelos cantos, me punha a chorar. Você não vinha, ficava limpo o nosso lençol. O clima era ameno, não tinha chuva nem sol. Mas em um certo momento o vento tem de chegar. O nosso amor pela metade não deu conta de barrar. A guerra se fez, você foi embora.
Se antes o fardo era pesado, que dirá agora. Ao me despedir do castelo fui passando as mãos pelas paredes e elas foram descolorindo. O que antes era segurança, agora estava caindo. O castelo se fez ruína. O nosso amor nunca foi um forte e não fui a heroína.
Eu fui para a cidade, um pouco tímida, com os olhos ainda úmidos e a unhas de carmim. Chegando lá havia um músico na calçada, ele tocava canções alegres e sorriu para mim. Sem armadilhas, eu estava presa àquela vida descomplicada. Nada mais me faria sair daquela estrada.
A guerra acabou e num susto você se lembrou do que nunca aconteceu. E pra você, depois de tanto tempo o mundo amanheceu. Você vem com flores, quer reconstruir o castelo, pintar com todas as cores. Mas agora ele me parece tão pequeno, tão normal. Porém quem sabe um dia vamos viver em Portugal?

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