28 de outubro de 2012

Um brechó na varanda

Minha primeira carta a um tio morto destravou minha mão e eu comecei a me apaixonar pelas palavras. Primeiro nas últimas folhas dos cadernos, nos bloquinhos, depois no blog. "Escrever um blog é como ir a um brechó" falou a jornalista Helô Gomes. A gente tem que entrar, sorrir para a vendedora, ter paciência e vontade para ir vasculhando cada arara e escolher as peças que nos são agradáveis, os tecidos, as cores e desprezar o que é inútil e brega. Escrever no jornal é já ter tudo escolhido, como ir a uma loja do shopping, a vitrine está arrumada com as cores e modelos certos. Para escrever assim livremente, temos que entrar em nós mesmos e descobrir o que nos agrada, o que machuca, o que nos faz sorrir ou chorar. Algumas peças são feias mas ainda assim queremos levar. Algumas vamos nos arrepender e preferir não ter comprado. Mas a nossa vida está cheia de lugares que não queremos visitar e somos obrigados por um impulso interno, para uma purificação, evaporar. Esse aqui é leve, é com a brisa da varanda que eu escrevo.
Isso é pelo aniversário do blog e pelo seu aniversário, Minguinho (no qual você faz mais uma vez doze anos). E pelas minhas lágrimas ao ver sua linda foto no túmulo do vô. O meu presente é sempre o mesmo: mais uma carta e uma oração. Dessa vez a carta vai um pouco triste e muito esperançosa, meu anjinho. Você sabe que os dias por aqui não têm sido fáceis, você sabe como eu me sinto quando vejo nossa família chorar. A minha alegria eu te sorrio e as minha lágrimas você enxuga. Melhora as minhas orações e fique sempre aqui comigo. Eu vou vivendo assim, escrevendo as histórias que você não pôde me contar. 

Um comentário:

Brenda Torquato disse...

eu acho que a Muiteza da Alice é muito mais sua do que dela.