14 de setembro de 2012

Tão rara...

Quando o sangue é o mesmo, as palavras fogem. Olha, ninguém sabe como é lá em cima, mas tenho a impressão que ontem o Tio Joãozinho, o Tio Nilton, o Tio Merco e o Tio Minguinho tinham bolo mata-fome de café da tarde. Não sabíamos o quanto a vó é forte até sermos obrigados a vê-la na beira do caixão gritando seu nome, chamando-a de minha filhinha, passando a mão pelo seu rosto já sem vida. A dor vai voltar a sangrar quando numa festa ninguém sair correndo para aparecer na foto, quando ninguém enrolar o cabelo da vó de sábado a tarde, quando o Valmir ficar bravo e não ter quem xingar de 'baixinha zazarenta', quando ninguém sair de quarta feira a noite para jogar bingo e sempre voltar com algum prêmio, quando o bolo de aniversário não for da Tia Candinha. Eu sei que a tia está melhor do que estava aqui, já não tinha forças, fôlego, ânimo, já não era tão gordinha e nem dava muita risada. Mas ontem, depois do enterro, sentada no sofá vermelho, parecia que a tia ia aparecer da cozinha com um prato de pastel frito na mão. Parecia que a tia ia descer na casa da vó, sentar na sua cadeira torta no canto do quintal, apoiar o braço na mesa e ficar lá balançando as perninhas curtas e piscando os olhos. Foi triste ver uma das carolas no caixão, isso não combina com a nossa família. Talvez essa foi a noite mais longa da minha vida. A nossa hora tem de chegar um dia e depois de tantas Ave-marias, Nossa Senhora rogou pela morte da tia, eu tenho certeza. E a nós só resta pedir forças para viver com a falta.

Um comentário:

Brenda Torquato disse...

fiquei sabendo, mari. E queria poder te dar um bom abraço e te apertar bastante pra ver se, pelo menos por um momento, diminuiria um pouquinho a dor. Sinto muito mesmo, de coração.
Mas a gente sabe, tem que saber, que a vida segue e os que foram seguem também, mas para o outro lado que, tenho certeza, é bem melhor.