Nova vida

Não estava mais numa sala de colegial cercada por brincadeiras e sorrisos. Estava sentada diante do seu futuro. Mas queria tanto viver! Onde estava seus amores e toda a arte que impulsionava seu coração? Tinha que achá-la nas frestas da aula chata de física ou nos intervalos quando escolhia os amigos a quem contar as coisas bobas. Não fazia nada o dia todo e não tinha tempo para ler, escrever, ver filmes ou sorrir. Se por um instante os pensamentos vinham lhe assombrar, seus olhos se enchiam de um vazio que nunca teve. Raramente escrevia, e quando o fazia era em preto e branco. Ela tirou a cor de sua própria vida, abaixou o volume da música até o zero e se sentou para esperar a felicidade que nunca vai chegar. Ela privou a si mesma das alegrias cotidianas e dos pequenos prazeres da vida. Decidiu viver numa casca dura onde nada pode atingí-la e, ao mesmo tempo, tudo a faz chorar.