10 de fevereiro de 2014

Caminhos inversos para nenhum lugar

A vida é um mistério, a consciência um santuário. Não mente. Lugar-comum em que ninguém está habituado. Vive-se escrevendo, lendo pintando, mostrando, falando tantos gerúndios para ensinar a coisa inata que é viver. Vive-se, enquanto ensina a viver, vive-se. 
Quando eu era pequena odiava Pedro Álvares Cabral, ele tinha que deixar a gente viver como índio. Não tinha nada que se intrometer no nosso país e, na minha cabeça, estaríamos até hoje, século 21, andando pelados e pintados por aí. (Escrevendo isso vejo o quão vanguardistas os índios podem ser). Porque burocratizamos tanto a vida que hoje em dia precisa-se de manual, livro de auto-ajuda para ser bem-sucedido e feliz emocionalmente, internet pra se declarar e manter uma posição política, roupa para se mostrar, preconceito para ser aceito, caminhos inversos para nenhum lugar. Lógica da guerra pela paz.
As notícias no jornal vem nos lembrar do que nunca queríamos ter aprendido. Suicídios são tristes não porque morrer é triste, mas porque ninguém se importa com a vida bem vivida de quem está ao nosso lado (talvez porque a nossa mesmo já está ruim). Há essa eterna busca pelo sentido e pelo prazer, sendo que ambos estão mais dentro do que fora. Há esses abismos entre as pessoas porque simplesmente nos esquecemos de estender as mãos. E há o amor, que muito se fala e pouco se vive. É o segredo do mistério, é o deus do santuário que não frequentamos. É o sonho, o balão de gás que nos faz voar, é o toque e o milagre diário das lágrimas.

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