6 de janeiro de 2014

Desmarcando presença

Ele chegava num lugar e era como se quisesse desmarcar presença. Perfume discreto. Não usava relógio. Tinha sempre um sorriso escondido, não escancarado. Tinha sempre uma frase quase dita. Será que eu conseguia desvendar seus olhos?
Ele me fazia rir. Não que isso fosse difícil, sempre tive o riso fácil. Não tinha muita altura, nem gordura, nem estilo. Era simples de uma maneira que poucos conseguem. Não simplório. Era descomplicado ao se vestir, ao falar e andar. Vivia a vida levinho. Mas seus olhos... tinham um quê de interrogação ou curiosidade ou amor. Era quieto, talvez tímido. Comigo trocava umas palavras, ensaiava um sorriso, olhava pra baixo, mexia na mochila, elogiava uma coisa ou outra e ia embora.
Nunca soube se gostava dele, se queria levá-lo assim pra vida toda, nunca pensei nele antes de dormir. Mas seus olhos... Eu lembro bem que eram pequenos e inquietos. Acho que eu queria só seus olhos como uma forma de beleza não dita. Só pra lembrar que talvez aqueles olhinhos guardassem uma forma desconhecida de amor.

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