13 de outubro de 2013

Pra te salvar

Eu sei, é muita pretensão, mas eu escrevo essa carta pra te salvar. Mesmo sendo por um motivo egoísta demais: eu não vou aguentar sem você. Porque você sempre foi, e ainda é, meu avô, meu pai, meu amigo, meu professor. Você é umas dessas pessoas raras com quem se tem prazer em sentar e apenas conversar. Foi pra você que eu dei um Saramago, por ser grandioso, e foi pra mim que você admitiu que era difícil, mas ia tentar e me devolver. Por isso eu te peço pra não me deixar sozinha nessa caminhada louca da vida. Dói demais ver seus olhos verdes cansados, porque antes eles eram atentos como de um menino de seis anos. Dói ver suas mãos paradas, porque antes elas sempre estavam arrumando alguma coisa. E ontem você nem levantou quando eu cheguei, apenas sorriu sentado na mesa da cozinha. Mas tio, isso doeu demais, porque antes você ia me abraçar no portão, gritando meu nome e me erguendo do chão, perguntando sobre minha faculdade, meu estágio e o livro que estou lendo. Ontem eu tive que abrir a porta do carro pra você, te pedir para colocar o cinto de segurança e eu fui guiando. Deixei o carro morrer na avenida e você não disse nada. Eu tive que me concentrar pra não chorar quando o nosso encontro foi só silêncio, foi só o seu olhar confuso e uma meia de cada cor. Que essa carta seja também uma oração pra você não sofrer.
Tudo parece ser vazio na sua vida agora, deve ser estranha essa sensação. O seu olhar se perde, você esquece das palavras, das pessoas e dos seus passos. Você sempre foi todo sabedoria e vigor e agora é você num canto só respondendo se quer comer ou ver televisão. Estou com saudade até das suas piadas chatas, eram melhores que sua solidão. Você continua sendo uma das pessoas mais lindas da minha vida e eu nunca vou te abandonar, vou te levar pra qualquer lugar, como você fazia comigo quando eu era criança. Que isso tudo seja só uma fase, que você consiga ser feliz e que essa carta seja uma forma de dizer que eu te amo muito!

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