28 de junho de 2013

O seu prédio sumiu da cidade

Não me pergunte, eu não sei explicar.
Toda vez que eu passava naquela avenida eu procurava seu prédio na rua de trás. Só dava para ver a cobertura que tinha uma piscina pequena e a churrasqueira. Quer dizer, não dava para ver tudo isso, mas eu sabia que tinha. Daí ficava lembrando da gente, pensando se poderíamos ter sido mais felizes. Eu sei que é bobagem isso. Não tem como prever, não tem como ela não existir e, mesmo que ela não existisse, você arrumaria outra com seus olhinhos desenhados. Eu não gostava de ver aquele seu prédio amarelo toda vez que passo lá (porque eu passo uma quantidade considerável de vezes durante a semana), eu me sentia triste e um pouco culpada e burra por nunca termos dado tão certo. E, nos dias mais dramáticos, achava que ainda te amava.
Só que hoje quando eu procurei pelo prédio que eu sabia que me traria lembranças (na verdade era bem mais que lembranças, pois elas próprias não me faziam mal, até traziam um sorriso discreto, o que me incomodava era todo aquele sentimento de era pra ter sido e não foi), hoje eu não encontrei. Talvez foi porque o ônibus passou rápido demais e eu estava distraída vendo um menino de quatro anos conversar com a mãe. Mas pareceu que esse foi o sinal de que você foi embora há muito tempo. Eu havia inventado o prédio como uma última lembrança sua, algo que eu me agarrava para você não ir embora, para que eu pudesse fechar meus olhos e sentir suas mãos quentes nas minhas. Mas o prédio, a sua imagem, sempre me traziam sentimentos quase sufocantes e talvez esse fosse meu inconsciente querendo te associar a algo ruim. O que não funcionou. E funcionou também. Você pode ver que não fiquei menos confusa desde aquela época.
É que na minha cabeça você sempre vai ser aquele garoto com feições quase infantis para a idade que tínhamos e mesmo assim com ideias muito sólidas. E uma teimosia tão grande quanto a minha. Vai ser o menino de bochechas rosadas que me fazia sorrir demais e ficar com o coração acelerado quando virava a esquina do bebedouro depois do almoço para me encontrar no nosso lugar de sempre. Eu só não aceitei que eu não sou mais nada pra você. Só não aceitei que a gente se perdeu de uma maneira tão tola e quando eu percebi o que realmente estava acontecendo, te vi com outra menina. Você tinha se apaixonado e não era mais por mim. E agora eu fico andando pela cidade querendo te encontrar por acaso, mesmo sabendo que se isso acontecer, não vai mudar nada na minha vida, muito menos na sua. 

Um comentário:

Rê Brun disse...

você escreve de uma maneira tão parecida com os meus pensamentos que é algo incrível!