Dei-lhe esse nome porque te amo. E te amo tanto que escolhi o nome da mulher que, durante a minha juventude, mantive uma relação profunda. A cada livro que pegava parecia-me que segurava um pedaço da liberdade. Era só com essa palavra que conseguia descreve-la: liberdade, liberdade, liberdade. Eu e o papai escolhemos seu nome, não sem um pesar (pais tem essa mania de querer para si e, pior, usando o argumento que é proteção), pois sabíamos que seria assim também: liberdade. Não liberdade de passarinho, feito a minha, mas a daquela mulher, que é liberdade por completo, uma utopia que chega quase nem existir. E te queríamos assim, Clarice, filhinha-surpresa. Olha o paradoxo: te queríamos quase para nós mesmos mas ainda assim liberdade. Os seus cabelos não saíram aos meus, nem aos do seu pai: você é toda uma mistura, é tão nossa e tão só sua. Deixo-lhe livros de herança, livros dela, minha filhinha, para que você se reconheça nas palavras. Quando você nasceu, eu logo vi, era um pacotinho de palavras a serem escritas e soltas. Você quase nasceu voando!
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