13 de dezembro de 2010
Dezesseis
Hoje ela faria 16. Sabia que era uma menina, por um pressentimento, uma coisa de mãe. Mesmo se privando de segurá-la nos braços, era mãe. E hoje ela faria 16. Sabia que iria nascer nesse dia, dia de Santa Luzia, o nome ia ser Gabriela Luzia - talvez fosse casta e boa igual a santa e não fosse pelo mesmo caminho da mãe. Mãe, mãe. Ela privou a si mesma de ser chamada assim, tirou-lhe a função por uns medicamentos, uns instrumentos, muito sangue, um pouco de choro. Hoje ela faria 16, ela tinha 16 quando decidiu tirar o direito de ser filha, de escolher o que fariam nesse dia treze. Era o décimo sexto dia treze que ela ficava assim, chorosa, arrependida, se odiando por ter se sentindo um pouco Deus e brincar de escolher tudo por outra pessoa. Talvez ela nem fosse uma boa mãe e Gabriela uma boa filha. Nunca saberia, sempre lamentaria. No próximo ano será 17, e ela desejou não ter mais vida para chorar sua filha, que foi filha sem o ser, e fez dela mãe. Mãe sem filho, mãe ruim e culpada e amargurada e sem vontade de viver.
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4 comentários:
Seu textos são sempre tããão bons. E eu venho louca quando vejo que você atualizou o blog. Ah mari, nem precisa falar né, você deve ser herdeira das palavras. :D
pára de escrever esses textos do mau! asheuahusea
que bonito, mari.
me dá vontade de chorar.
que lindo.
que delícia achar um comentário bonito no meu blog e aí descobrir coisas muito mais bonitas ainda.
e que bom que mais alguém gostou da elegância do ouriço. eu sou suspeita pra falar, porque ele virou meu livro de cabeceira. agora, estou lendo "a morte do gourmet" da muriel também. lindo que nem. se animar, me conta depois.
um grande beijo
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