1 de maio de 2010

Os olhos do poeta

Não eram de um azul deslumbrante, tampouco de um verde sereno, nem castanhos eram. Os olhos do poeta eram acinzentados, como quem quer ter todas as cores e acaba ficando sem nenhuma. Mas naqueles olhos acinzentados cabia tudo. Olhe para o lado agora. O que você vê? A pedra era muito mais que a pedra. A janela era como o quadro mais bonito do planeta que mudava durante o dia, a noite e a brisa da manhã. A criança falava que o espaguete era um conjunto de minhocas, e o poeta completava que eram minhocas malucas. O poeta era uma criança crescida que escrevia os sonhos e vivia meio avoado. Que andava descalço apenas porque não estava com vontade de colocar os sapatos. O poeta tinha as mãos finas e magras e um sorriso lívido de quem não sabe se vale mesmo a pena sorrir. Na mesma frase ele dizia que não há nada mais bonito que a vida, e que a vida é chata de tão comum - todos têm. E isso era o mais fascinante em ser poeta, nos seus olhos acinzentados cabia o mundo todo, a parte que acha que tudo é lindo e a que tem os olhos fechados.

"- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo!
Eu creio em Deus! Deus é um absurdo!
Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta."
MQ

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