Não eram de um azul deslumbrante, tampouco de um verde sereno, nem castanhos eram. Os olhos do poeta eram acinzentados, como quem quer ter todas as cores e acaba ficando sem nenhuma. Mas naqueles olhos acinzentados cabia tudo. Olhe para o lado agora. O que você vê? A pedra era muito mais que a pedra. A janela era como o quadro mais bonito do planeta que mudava durante o dia, a noite e a brisa da manhã. A criança falava que o espaguete era um conjunto de minhocas, e o poeta completava que eram minhocas malucas. O poeta era uma criança crescida que escrevia os sonhos e vivia meio avoado. Que andava descalço apenas porque não estava com vontade de colocar os sapatos. O poeta tinha as mãos finas e magras e um sorriso lívido de quem não sabe se vale mesmo a pena sorrir. Na mesma frase ele dizia que não há nada mais bonito que a vida, e que a vida é chata de tão comum - todos têm. E isso era o mais fascinante em ser poeta, nos seus olhos acinzentados cabia o mundo todo, a parte que acha que tudo é lindo e a que tem os olhos fechados.
"- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo!
Eu creio em Deus! Deus é um absurdo!
Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta."
MQ
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