23 de abril de 2010

A morte

O cheiro da morte é o dos crisântemos? Ou das roupas pretas do fundo do armário? Qual é o aspecto da morte? São as velhas com seus xales de tricô, ou os velhos de humor desprezível? A morte só chega em manhãs brancas de inverno, ou também nas tardes amarelas de verão? Ela sempre vem na hora certa ou tem vezes que se atrasa? A morte cria todo um universo para si, cores e cheiros selecionados, para que fiquei tudo bem guardado na nossa memória. O barulho da morte é o choro, mas é também o silêncio e as baratas correndo pelo chão. É, cada vez mais, o reencontro de parentes distantes. E, por uns momentos, nos perdemos na tênue linha entre a tristeza e a alegria. A morte não se deixa clara nos abraços reconfortantes, nem nas promessas de orações, ela se deixa perceber na hora do almoço e na cadeira vazia, na cama arrumada ou no perfume que não sai mais do frasco. Na beijo na bochecha que não existe mais. A morte é justa e triste, é o paradoxo da vida.

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