21 de outubro de 2009

05 - Uma rua

Sugestão de Marcelino Freire, na oficina Língua Solta.
20 de outubro de 2009.

Eu lembro da rua. Era uma ladeira, dessas que quando a gente sobe fica cansado e na hora de descer fica pulando sem querer. E o que eu gostava mesmo era de pegar a bicicleta da minha irmã. Era grande, sem rodinha e vermelha, enquanto a minha era pequena, rosa e com aquelas rodinhas que não deixam perder o equilíbrio por nenhum momento. Mas eu gostava de bambear para os lados, me concentrar no guidom e descer a ladeira. Meu pai mandava eu ter cuidado, que eu ainda era pequena demais. E eu ia descendo, as casas das minhas tias iam fiacando para trás até que eu chegava no muro verde da minha avó. Nessa hora eu apertava o freio e tombava a bicicleta, sentava na calçada suando, vermelha, jogava os cabelos (que ainda eram lisos) para trás e ficava olhando o sol bater nas amoreiras daquela rua do interior, onde a igreja ficava no alto e os velhos nas esquinas. Naquela rua, onde eu passei a minha infância até que a bicicleta grande ficou pequena, as casas com cheiro de morte e a rua toda plana.

Um comentário:

C disse...

Você é uma escritora e tanto, pequena.