7 de setembro de 2009

Pelas ruas, pelo mundo {um}

Enquanto caminha pela rua, toma o cuidado de não pisar nas linhas - aquela velha mania a atormentando de novo. Ela se irrita com isso, mas não consegue evitar. A garota passa pelo jornaleiro que sente o cheiro de lavanda do seu cabelo. Ainda é muito cedo e as ruas estão vazias. Não há muitos carros circulando, com isso dá pára ouvir o canto dos pássaros. Ela os adora, acha lindo como expressam a beleza da vida sem nenhuma palavra. Pois ela precisa das palavras, sempre precisou. A menina tem cabelos pretos, pele branca, boca rosada e o nome de Catarina. Na mão, um exemplar de "Perto do coração selvagem", de Clarice Lispector. Catarina anda devagar, mas é decidida, dá pra ver em seu olhar. Não tem dúvidas de seu destino naquela manhã, na cidade de São Paulo. O último ano da faculdade estava difícil, difícil porque a garota raramente estudava - sua inteligência sempre bastava para garantir a média. Logo Catarina ia se tornar jornalista. E daí? ela se perguntava. Teria um diploma nas mãos, e o que no coração? O que mais queria era largar tudo, voltar para seu interior, para o seu amor. Mas também, não tinha mais mãe e nem pai para lhe receber. Nunca tivera irmãos. Tinha só os poucos amigos que lhe serviam de companhia no verão, quando iam até a sorveteira da dona Lena, e no inverno, quando os filmes, pipoca e edredons preenchia a noite. Mas também há tempos não os via, não sabia nem se estavam mortos ou vivos. Tinha Bernardo. Mas e aquelas suas palavras de adeus no aeroporto quando foi pra São Paulo se despedir de Catarina e tomou um avião para Londres? A menina não sabia se ele voltaria, se ele já tinha voltado, se ele tinha casado e agora era pai de quatro filhos. Quatro não, faz apenas três anos que ele foi, não daria tempo. Mas e se fosse gêmeos, trigêmeos? E se fosse as gêmeas que ele teria sonhado com Catarina naquela tarde debaixo do pé de manga quando tinham apenas 17 anos de idade? Pára, Catarina. Continue andando, não se deixe levar pelos pensamentos antigos, senão, você sabe, vai parar do outro lado da cidade e aqui, nessa cidade maluca, dá muito trabalho voltar. Vai, a menina não tem dúvidas de seu destino, e depois de cinco quarteirões ela chega.

2 comentários:

v disse...

que bonito, mari :)

continuará, né?

v disse...

finais são terríveis mari.
não consigo terminar as minhas também, e, quando consigo, odeio. hahaha. preciso também disso.