6 de junho de 2009

Apatia

Ela tinha uma mãe e um pai, e até um irmão com quem se dava bem. Ela tinha avós, tios e primos. Tinha amigas e um namoradinho. Ela tinha até uma guitarra e um quarto legal. Mas e agora, de que adiantaria tudo isso? E agora o que ela faria sem seu coração?
É, ela não tinha mais coração. E como pode, uma menina tão bonita sem coração?
O primeiro sintoma foi um vazio, dai veio a tristeza e a insatisfação. Nada estava bom, nada a fazia sorrir como antes. E foi nessa hora que começou a desconfiar, pois sabia que sorrisos puros não podiam vir de outro lugar que não o coração.
Depois as coisas já não faziam sentido para ela. Não entendia o abraço da amiga, nem o beijinho da mãe, nem as mãos dadas com o namorado, nem as tantas cartinhas e bilhetinhos que se amontoavam numa caixa dentro da gaveta. Não entendia as coisas que só fazem sentido para o coração.
E por último veio o fim, claro. A morte daquela que não tinha mais coração. Morreu para o amor, para a alegria, assim como para o sofrimento. Não tinha mais sorrisos nem lágrimas. Não tinha mais paz nem guerra. Era uma menina bonita e sem coração.

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