26 de junho de 2009

Aí ela chorou

Arrumou os cabelos de um jeito apressado e desceu as escadas. Escorregou de leve no último degrau e entrou na perua, que já buzinara duas vezes enquanto a menina acordava o vizinho com seus passos fortes na escada. Ele era um chato mesmo, vivia implicando com a garota, ora pelo som alto, ora pelas amigas dela, ora por pisar forte demais. Que culpa tinha ela de ser decidida até quando andava?
Naquele dia de cabelos mal arrumados, vizinho implicante e sono na perua, a menina chegou na escola quieta. As amigas estranharam, ela sempre falava pelos cotovelos. A menina foi em um canto da sala, sentou encolhida de um modo com que desse para morder o joelho sem grande esforço. Ela chorou. Chorou. Chorou.
Há tempos seus pensamentos a incomodavam. Porque sua melhor amiga não mais lhe era perfeita, e seus pais não lhe deixavam um pouco, e suas risadas já não eram verdadeiras? Porque suas amigas dificultavam tanto as coisas, e seus primos estavam tão distantes, e quando ela pensava que tudo ia melhorar as coisas simplesmente paravam?
"Chora mesmo, chora tudo o que houver aí dentro. Chora até as lágrimas lhe secarem, até a dor cair pelo rosto quente, até a hora em que não houver mais ressentimentos, nem dúvida, nem qualquer coisa que lhe faça ficar assim, amuadinha e tristinha. Até esse instante utópico chegar, e ficar tão pouco tempo que você vai percerber que as coisas são mais perfeitas com as falhas, com os choros, com a diferença, com as dúvidas, e vai conseguir sorrir de verdade. ", falou uma voz doce vinda de quem menos se esperava.

3 comentários:

. disse...

Linda.

lary m. disse...

eu adorei, muito !

C disse...

Eu sei que as amigas não são perfeitos. Sei bem. Mas elas te amam, lembre-se disso.