8 de março de 2009

Com serpentinas e purpurina

Era uma sala de espera. A menina chegou com sua mãe, e o menino esperava a sua. Ela chegou toda sorridente, com seu short vermelho e seu par de all star, na mão um livro. O menino era todo preto, tênis, bermuda, camiseta e a pulseira que tinha no braço direito. A pele não, era branca, muito branca, com suas unhas compridas, o cabelo preso num rabinho e os óculos grandes demais (ou até pequenos demais, considerando o rosto gordo). Rosto que a menina não viu. Desde a hora em que entrou na sala de espera o menino fitava o chão. Sequer levantou os olhos para ver quem estava chegando. Lá fora as pessoas arrumavam um salão para o Carnaval, testavam o som. A música começou alta, "I will survive"! Ela não pode evitar, olhou fixamente para o menino gordo e nerd que estava em sua frente imaginando a cena. Ele se levanta, estende a mão para ela, os dois vão para o meio do salão. Enquanto a menina digere a ideia de que alguns instantes atrás ela se perguntava se o menino era mesmo um ser humano ou algum boneco sem vida e agora tudo mudou, ele rodopia e solta a franga, com serpentinas e purpurina. Com um sorriso gay no rosto e o video game portátil na mão. Ao pensar isso a menina ri. Logo se vê na sala de espera, com o menino imóvel à sua frente, a música no fim e os vestígios da imaginação. Até a hora em que a menina se levantou para ser consultada e o menino se levantou para ir embora, o sorriso não lhe saiu do rosto.

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