Ontem eu dei meus gibis para o vizinho que está começando a ler. Fui pegá-los numa caixa em cima do armário, já esquecidos pelo tempo. Mas assim que abri a caixa vi todos os meus amigos, Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão, só esperando para ganhar novamente vida na imaginação de alguma criança. Lembrei das vezes que lia as histórias e decorava cada fala de cada personagem, das vezes que eu inventava finais diferentes daqueles criados pelo Maurício de Souza, das vezes que eu passava com meus pais em frente uma banca de jornal e insistia para que comprassem "um gibizinho só", das tardes em que eu pegava todos as revistinhas e forrava a sala começando pelos mais antigos, e depois ia tentando adivinhar o título da primeira história só pela capa (e adivinhava quase todos), de quando meu pai fez uma assinatura para receber gibis da Mônica e a como eu adorava chegar em casa e ver aquele saquinho preto com uma nova historinha me esperando. Lembrei de como aqueles personagens coloriram minha infância e despertaram o meu gosto pela leitura. E que alegria eu senti ontem ao ver a carinha feliz do Gabriel vendo eu levar todos aqueles gibis para ele, ao ouvir ele exclamar "oooba" e o abraço que ele me deu, como se eu estivesse dando para ele o meu maior tesouro. E se ele pensou assim, ele não estava nada errado. Por um bom tempo eles foram sim muito importantes para mim, o meu maior orgulho era a minha coleção de gibis que eu vivia arrumando e organizando por diferentes critérios. Hoje eu sei que o maior tesouro que eles me deram não foi fisicamente, foi uma paixão pela leitura e pela criação, foi o aguçar de toda a minha imaginação durante a infância e até hoje. Eu não preciso mais deles, eles já me deram tudo. Agora é o Gabriel quem precisa, e eu espero que aqueles gibis, mesmo velhos, alguns rasgados e, agora, errados em seus acentos, seja para ele a porta da imaginação, da fantasia e, principalmente, a porta da leitura. Eu espero que aqueles velhos gibis sejam para ele o que foram para mim.
PS: e nesse mesmo dia, assistindo Alta Horas com o Maurício de Souza, não pude me conter e levantei a mão (sentada no sofá de casa mesmo) quando ele perguntou quem tinha aprendido a ler com os gibis da Turma da Mônica. \o
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